quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Resenha do Livro: Neon Angel – A Memoir of a Runaway

O livro é a biografia de Cherie Currie, da famosa e notória banda dos anos 70 The Runaways . Escrita efetivamente por Tony O´Neil (porque não, Cherie não é escritora apesar de ser uma habilidosa escultora em madeira utilizando uma motosserra – não estou brincando) a partir dos relatos da própria Cherie, o livro conta a conturbada (é, é a palavra que mais se aproxima) da eterna Cherry Bomb.
A bio começa com Cherie aos 13 anos e sua relação de admiração/inveja com sua irmã gêmea, Marie. Clássicos da vida adolescente: se acha feia, tem amigos estranhos, uma fascinação obcessiva por um ídolo (no caso David Bowie) e uma família complicada com pais divorciados. Além disso, Cherie gostava de “causar” na escola usando cabelos pintados e mostrando pra todo mundo quem era a mais freak do pedaço. Até aí tudo bem. Só que a coisa começa ficar mais pesada.
Aos 14 anos Cherie é estuprada pelo namorado de sua irmã gêmea. Com vergonha e medo de ser julgada, ela não faz nenhuma denúncia e não conta para ninguém o que aconteceu, com exceção de Marie que a aconselha a ficar mesmo de boca fechada. Visivelmente traumatizada ela mergulha na música, no visual andrógeno de Bowie e como não poderia deixar de ser, nas drogas.
Pílulas, cigarro, bebida, festinhas, shows. Isso tudo com o background familiar cada vez mais deteriorado com direito a pai alcóolatra, rejeição materna (a mãe dela literalmente a abandona em prantos num aeroporto a fim de se mandar pra Indonésia com o namorado) e cunhado irresponsável. A entrada na banda The Runaways sacudiu ainda mais o mundo de Cherie, agora com o excêntrico Kim Fowley a lhe dizer constantemente que ela era feia, incapaz e que não tinha “autoridade rock´n´roll”.
Cherie acusa Fowley ainda de tê-la semi-prostituído para um famoso músico da época. A cena em que Cherie acorda no dia seguinte e vê a si mesma, o cara e o todo quarto coberto de sangue menstrual é tão vívida que é possível sentir a humilhação da garota de então 16 anos.
Brigas internas da banda, depressão, abuso de drogas pesadas, chantagem familiar e abandono permeiam as páginas do livro. E é difícil lembrar que durante todo esse tempo Cherie ainda era adolescente. O relacionamento com o gerente da banda Scott Anderson (um homem de mais de trinta anos) é debatido abertamente, inclusive sua gravidez aos 16 anos após voltar da turnê européia. Cherie conta como se sentiu um pouco melhor e mais esperançosa ao descobrir que teria um bebê, mas é convencida pelo pai a abortar, uma experiência que ela marca como “a pior que alguém poderia ter na vida”.
Não é uma leitura fácil, no sentido de que a história narrada é muito pesada. Depois de sair da banda, afundada no abuso de drogas, Cherie é sequestrada por um serial killer, torturada e violentada durante horas. Ela consegue escapar somente para se ver ridicularizada por um tribunal que atribui a ela a culpa de tudo que aconteceu e ainda condena o agressor a uma pena ínfima. Aos 21 anos, Cherie chega ao grau terminal por conta de seu vício em cocaína.
A reviravolta das últimas páginas, no entanto, é impressionante. Cherie se interna numa clínica de desintoxicação, se livra do vício de cocaína e tenta recuperar sua carreira. Torna-se conselheira para adolescentes viciados e depois preparadora física. Casa-se com o ator Robert Hayes, tem um filho, divorcia-se e continua a melhor amiga do ex-marido. Um dia, dirigindo numa auto-estrada, vê um cara fazendo uma imensa figura de madeira usando uma serra elétrica. Ela resolve se dedicar a essa arte e hoje é uma das grandes campeãs da categoria.
Obviamente que o livro apresenta inúmeras contradições. Cherie às vezes fala da família como a melhor coisa de sua vida, somente para depois dizer que eles a prejudicaram e abandonaram. Clama uma amizade com a mãe sendo que o leitor vê que obviamente as duas têm sérios problemas de relacionamento. Diz que as outras Runaways eram como suas irmãs, somente para contar páginas depois que elas não eram nada próximas. Fatos são fantaziados, dramatizados e é claro a mão do escritor que usa e abusa de metáforas clichés para causar um efeito maior.
Eu não utilizaria esse livro para dar uma conta fiel da história de The Runaways (eu acredito mais na versão de Jackie Fox e de Vicki Blue, mostrada mais explicitamente no documentário Edgeplay), até porque Cherie é famosa por ser uma drama queen. Mas o livro funciona como retrato de uma época e conta, com seus exageros e dramas, a história de uma mulher no mínimo incomum que conseguiu superar diversos preconceitos, em várias esferas.
Interessante:
Na década de 80, Cherie lançou uma versão de sua bio entitulada “Neon Angel: The Cherie Currie Story” que tinha uma versão mais “amenizada” dos fatos (ou seja, excluindo o abuso sexual, a violência, o aborto, a semi-prostituição, o sequestro, …).
O prefácio da versão atual é de Joan Jett.
O livro conta com várias fotos em papel brilhante mostrando Cherie em vários momentos de sua vida.
Foi esse livro que deu origem ao filme The Runaways "garotas do rock".

Fonte: Mundo de Coisas Minhas

2 comentários:

  1. posha Cherie já passou por tanta coisa ela é uma grande mulher.

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  2. caramba cherrie é uma tremenda louca e desmiolada se ela tivesse pensado nela mesma nada disso teria acontecido.

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